domingo, 16 de dezembro de 2007

Autocrítica

"A autocrítica é um dos mais complexos atos de qualquer ser humano, em relação a qualquer ação, a curto prazo. Em relação ao artista, isso se torna mais evidente. Para criticar, é necessário haver um distanciamento emocional que dificilmente ocorre logo após a produção de determinada obra. Contudo, o tempo e, quiçá, a interferência de um agente de confiança externo podem equilibrar a balança, de modo a permitir uma visão lúcida das coisas."
- Légio, Lobato. Crítica e Comentários à Produção Literária Humana, Vol. II. Viena, Praga, Damasco. Editado por Papirus Guttenberg. p. 127

Começa hoje um processo de crítica sobre um antigo texto meu. Amanhã, falarei sobre o que mudou em mim em relação ao que está escrito nele, e farei, enfim, uma crítica sobre o texto. Mas antes, eis o texto, para que vocês leiam e eu, depois, comente:

Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.

A cada dia que passa eu percebo que estou ficando mais velho. Não necessariamente muito velho, ou alguém que acha que sabe muito da vida. Simplesmente você vai deixando de ser criança, e vai chegando mais perto de ser adulto. De novo, não que você realmente seja um cara maduro, sério, etc., mas você parece com um. Antes você passava o dia sem preocupações, não necessariamente brincando, não necessariamente fazendo “coisas de criança”, mas você ficava “sonhando” acordado, e até era mais sozinho, porque não ligava muito para os “sentimentos de adulto”, mas daí você descobre o amor, ou algo que você acha que é amor. Você começa a se importar com os outros, com o que eles fazem, com o que eles pensam sobre você. Você começa a se estressar com as coisas que não tinham importância antes. Você começa a mentir por achar que o outro não vai gostar da verdade. Enfim, você vai se tornando aquilo que todas as pessoas no mundo foram, são, ou vão ser. Porque ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.


Quando a gente é criança, a gente acha que vai mudar o mundo, que vai ser diferente. Mas o tempo passa e continuamos os mesmos. “Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder”. Ideologia, isso faz parte, mas tem muito mais. Você acha que vai crescer, vai ser diferente do que seus pais foram, que não vai obedecer aos estereótipos, que vai fazer a diferença. O país pode mudar, pode haver guerra, pode haver, pode haver poesia e arte. Morte e sofrimento. Mas a cada ano que passa você não fez nada... Você estudou, amou, odiou, sofreu e foi feliz. Você estudou, teve sucesso, casou, teve filhos, todas as pessoas a sua volta te amaram, então você ficou velho, seus filhos te apoiaram, você se aposentou, foi viver no campo, e morreu com 80 anos, de uma doença qualquer. Mas daí vocês foi enterrado e virou só mais um nome no Obituário.


Depois de um tempo ninguém lembra mais de você, seu nome não está nos livros de história, você é só mais um, morre tanta gente. É porque a vida humana é isso mesmo: ser feliz, morrer, e ser esquecido depois. E sim, isso é assustador. Vida após a morte, reencarnação, ninguém tem certeza. Mas você será lembrado? Hitler matou seis milhões de judeus, hoje todo mundo sabe quem ele foi. É mais ou menos isso que “Clube da Luta” tenta passar: destrua tudo, mas seja lembrado. Existem outros meios é claro, e eles são mais difíceis. Eu não sei... Talvez perceber agora que estou no caminho certo para me tornar só mais um seja um bom sinal. Talvez eu pare de ficar esperando a vida passar e reaja. Talvez eu faça a diferença, lute uma revolução, ou morra tentando. Talvez eu salve milhões e seja lembrado, talvez eu funde uma religião que dominará a terra. Talvez eu descubra Deus e encontre a paz. Talvez eu me torne famoso, talvez eu me torne um ícone. Talvez daqui a mil anos ainda lembrem de mim como alguém que fez a diferença. Ou talvez não.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu lembro que eu estava tendo uma preucupação semelhante à que você narra no texto, achei quase emocionant na hora. Tbm lembro que esse foi o primeiro texto que você me mandou.

Sib disse...

me lembro de ter lido este texto.