sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Exílio

Por último, um texto que comecei a escrever especialmente para o blog. Dêem suas opiniões que esse pertence a vocês, então tudo que vocês disserem será considerado. Aí vai:

Três árvores cobriam o frontispício da casa 57, a penúltima da Rua Aristodemo Fallecy. O concreto da ladeira parecia escorrer, se acumulando em frente da casa como magma derretido. Um homem vinha descendo lentamente a rua, com as mãos nos bolsos. Sua cabeça estava coberta pelo capuz do blusão azulescuro. Seus tênis desgastados escapavam habilmente dos buracos que pontilhavam a ladeira.

Ignorando o visitante solitário, a casa 57 repousava humilde e soturna além da calçada. Não se entrevia sequer um pedaço de seu muro, e o portão se escondia na penumbra de um tronco esperando que dedos passassem por ele. Pouco se via do quintal além. O único sinal de vida era um gato marrom que dormitava sobre um saco de areia jogado num canto. A porta permanecia fechada, o carpete jazia imóvel e as venezianas fechadas não denunciavam os olhos que por detrás delas espreitavam.

Inferno. O sol desgasta o concreto velho e o faz emanar seus segredos sujos. Quantos pés malditos já não terão pisado ali? A calçada é minha muralha, minha casa é meu corpo, eu sou. Não, nenhum deles nunca jamais ousará tocar em mim, eu, o único que vive.

Os vizinhos falavam dele em lendas, histórias contadas pelos garotos maiores para manter os outros sob seu comando por mil e uma noites. Inventavam-lhe muitos nomes: Carlos o Terrível, Francisco o Pequeno e Zé o Breve. Cognomes sussurrados com cuidado em frente às suas muralhas quando a noite já estava velha e prestes a dar a luz a um novo dia. Adaraluza. O viúvo da frente o chama Cão Andaluz. Sim, um cão andaluz. Eu sou a navalha, sou o olho, sou a lua. Não a nuvem. Ela passa. Só sou nuvem enquanto baleia encalhada na orla desse lugar imundo. Inferno.

Derrepentemente, a lua nas paredes de sua casa é cheia e parece estar então tão perto quanto se possa ver; mas ele não vê. Que vulto é este que ousa pisotear minha pele e soprá-la longe, desnudando-me como se eu fosse só. Não há campainha, mas as palmas soam repetitivas, abrindo-lhe os poros e cravando-lhe as crateras. Sim ou não. Simounão. Mounisão. Sãnimuo. Ele aperta um botão e o portão solta suas trancas. O homem que esperava lá fora força a ferrugem e o pó acumulado e abre o portão. Ele vem caminhando lentamente. Toc-toca a porta.

Lenta giramente a chavetusta. O carvalho avança sobre mim, e agora, luz do dia? Que castigo você me reserva? Sua mão fica parada. Sim, sim, quem escolheu esse dia é esse o dia por que esse dia quem foi? A maçaneta gira lentamente. Não, não. A porta de carvalho se abre lentamente, avançando sobre ele. Oro supplex et acclinis cor contritum quasi cinis gere curam mei finis. A porta se escancara totalmente arrancando à luz os móveis padecentes. O Invasor se revela e, dando um passo à frente, retira seu capuz.

- Salve, Jericó, vim salvar-te de tuas muralhas.

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Findo esse proêmio, eu é que parto para meu exílio. Curto exílio, este, mas exílio será. Espero encontrar esses meu lar internético fervilhante quando do meu retorno. Grande abraço e feliz natal!

2 comentários:

Anônimo disse...

vc pode se tornar alguém escrevendo (?)
me comovem ;(

Sib disse...

meu deeus
demorei séééculos para sacar a frase em latim que eu já cantei (peccato!)
ahhh, continua, continua.
voce começa o nosso texto? nao tenho idéias, tampouco ânimo para começar =P
vou entrar em recesso até o dia 14 de janeiro porque vou viajar, mas se eu encontrar uns pcs pela argentina no meio do caminho em vez de pedras eu vou escrevendo.
beijos.