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- O quê?
Martin Madusky acaba de configurar em seu rosto redondo uma autêntica expressão de surpresa. Little Punk e Doo-Doom, os agentes da Emissora, acabaram de lhe avisar que John B. será o Diretor da Série. Desta vez eles estão acompanhados por um Agente novo, uma moça que só observa, parada que está alguns passos atrás de seus companheiros, e não diz nada.
- Mas eu pensei que haveria vários diretores, The Brotherhood of Heaven and Hell foi dirigido por 3 pessoas diferentes...
- A Emissora quer fazer diferente, dessa vez, disse Little Punk, John B. vai dirigir a Série e te ajudar a decidir o que acontecerá na história.
Esse momento confirma para Martin sua teoria do terceiro encontro, que ele guarda inexpressa na cabeça e sobre a qual não fala a respeito nunca, tomando cuidado na verdade para nem pensar muito nela. A teoria, que ele cria estar sendo agora confirmada na prática, consistia em serem os terceiros encontros com agentes dEles experiência memoráveis, transformadoras, e possivelmente desagradáveis. Acontecera nas filmagens de Massacre Sangrento, acontecera nas filmagens de “The Brotherhood of Heaven and Hell”, e agora acontecia de novo. Depois que Ruther Cardigan lhe ligara, perguntando se já havia escrito um roteiro, e pedindo a ele um exemplar do gênero para dirigir, justificando o pedido com ser ele um admirador de seus contos, Martin, tendo aceito, o acompanhara a uma reunião com um agente dos Eles do Estúdio que iria financiar e distribuir o filme. O segundo encontro se dera durante as filmagens, quando o mesmo agente do primeiro encontro, que Martin tinha a vaga lembrança de chamar-se Xenofonte, aparecera no estúdio para cumprimentar o elenco e a equipe. O terceiro encontro, fatídico, teve lugar quando Xenofonte, junto de um agente inominado, foi até a casa de Madusky para dizer-lhe que o Estúdio não estava gostando das provas do filme, e que seria necessário fazer alterações e cortes. Quando foi chamado para escrever “The Broterhood of Heaven and Hell”, Martin encontrou-se duas vezes com Little Punk e Doo-Doom, em sua casa e depois na sede da Emissora, e um dia enquanto acompanhava as filmagens da Série eles apareceram, acompanhados de um homem velho que não se apresentou, e avisaram a Martin que por questões complexas de orçamento o número de episódios de “The Brotherhood of Heaven and Hell” teria de ser reduzido drasticamente, passando de 18 para 13, o que eliminou um arco inteiro da série e, na visão de Martin, mutilou parte do sentido de sua obra. Ainda assim, ele não ofereceu muita resistência quando Little Punk e Doo-Doom trouxeram a proposta da Emissora para uma nova Série, dessa vez longa, que daria continuidade ao sucesso alcançado pela última empreitada televisiva de Madusky. Depois de feito o convite, Martin se encontrara com Little Punk na sede da Emissora, para apresentar suas idéias para a Série, e agora, na terceira vez em que encontrava um ou mais agentes desde o fim de seu último trabalho, eles lhe vinham com aquela notícia.
- Mas o que vocês estão dizendo! John B. é como um herói para mim, eu já vi todos os seus filmes várias vezes, vai ser uma honra trabalhar com ele!
E Little Punk respondeu simplesmente:
- Muito bem.
Recebida a notícia, Martin trabalhou com afinco para finalizar as estruturas dos episódios daquela que seria a Primeira Temporada da Série, e com especial esmero se debruçou sobre o Piloto para transformá-lo em algo memorável, capaz de atrair atenção e audiência. Eles haviam decidido transmitir a Série às quartas-feiras, no horário das nove da noite, e embora não estivessem fazendo grandes investimentos técnicos na produção, tinham trazido para trabalhar na Série grandes atores e atrizes, assim como atores e atrizes famosos. O eminente Roy Buffalo, a talentosa Tina Tornado, o chamativo Justin Case, a indescritível Lia Lispeck, assim como os grandes e premiados Kurt Belmondo e Samantha Sugarcane compunham o elenco principal da Série, o sexteto central ao redor do qual os acontecimentos e demais personagens rodariam.
A Série seria gravada nos novos estúdios perto de Wild Sierra, com o apoio da equipe “de luxo” da Emissora, os co-roteiristas Ringo Gillespie, Giuliano Ellington, Clint Parker e Django Reinhardt, vulgo “Quarteto”, o requisitado cenografista Johnny Tarzan, o cinematografista Alfie Figaro, e muitos outros membros dedicados do Esquadrão de Qualidade da NGP. Martin estava muito feliz, portanto, quando chegou ao estúdio naquele que seria o primeiro dia de gravações da Série. Estava sem óculos e até mesmo sorria discretamente por trás da barba. Quando entrou no estúdio, viu que um grupo de pessoas estava reunida diante dos cenários, e não davam o menor indício de estarem trabalhando. Uma das pessoas, percebendo a presença de Martin, veio em sua direção e, sem dizer nada, lhe entregou um bilhete dobrado. Do lado de fora lia-se “Para Martin Madusky”, e ao abri-lo o roteirista deparou-se com uma mensagem imponente, escrita numa letra de mão que bem poderia ter sido encontrada nas ruínas de alguma civilização perdida, e que levava adiante sua teoria dos três encontros, pois parecia constituir, em sua impessoalidade, um encontro mais verdadeiro com Eles do que todos os que tivera até então por meio de Seus agentes:
“GRAVAÇÕES SUSPENSAS ATÉ SEGUNDA ORDEM.
TEMOS UM PROBLEMA:
QUAL SERÁ O NOME DA SÉRIE?”
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