quarta-feira, 10 de março de 2010

A Série - S01E12

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Madusky, o imbecil, ataca novamente. O maldito tentou substituir o Quarteto, arranjar novos co-roteiristas, mas a emissora não deixou ele fazer isso. Que bom, que bom, que ótimo que ele não teve seus caprichos atendidos! O Quarteto tem muito prestígio com a emissora, eles escreveram os maiores sucessos televisivos dos últimos anos, entregam os textos na data certa, não têm frescuras. Ao contrário do Madusky e de sua pança, a dupla dinâmica.

Ainda me pergunto como me deixei enredar nesse projeto. Quando fui chamado, eu não estava de mãos vazias. Eu tinha uma proposta de Travis Armedio para trabalhar num filme de época, do século XVIII, com um orçamento alto pra cacete. Eu tinha sido convidado por Sidney Lawton em pessoa para fazer os cenários de um filme dele passado no futuro, algo como a mesma coisa que hoje mas com pequenos detalhes diferentes, e eu teria TODA A LIBERDADE para criar esses detalhes, toda a liberdade para dar a esse mundo uma cara parecida com a minha. Eu podia até mesmo tentar entrar de uma vez por todas na carreira de diretor, com meu velho projeto passado na Paris da belle époque, que eu amo tanto. Mas não, eu me deixei levar por razões sentimentais e pelas promessas deles, e agora rumino a presença repulsiva de Madusky. Malditos.

Recebi um convite por escrito pelo correio para comparecer a um coquetel na sede da emissora, em Wild Sierra, mas o convite não dizia qual era o objetivo do evento. Normalmente esses coquetéis servem para a emissora fazer uma triagem entre os membros da classe que não são seus funcionários sobre como eles estão se sentindo em relação a ela e à indústria, e por isso não me preocupei muito em me informar. Quando eu cheguei lá vi que esse era um coquetel diferente, pois não só havia relativamente pouca gente como estava cheio de funcionários da emissora, por exemplo meu velho amigo Charlie, que há anos é chefe do pessoal da iluminação, e o Quarteto. Não demorei a descobrir que a emissora tinha feito aquele coquetel para apresentar seu próximo grande projeto à equipe que trabalharia nele. Eles falaram desse jeito mesmo, apareceu um dos famosos porta-vozes, um que eu não conhecia, totalmente careca vestindo um terno bem recortado, como sempre, e começou a falar ao microfone (normalmente nesses eventos não tinha microfone, os contatos eram feitos somente na conversa), dizendo que uma nova série começaria a ser gravada para ser lançada no horário nobre, e que todos nós ajudaríamos a construir o sucesso dela, isso que muitos de nós ali sequer éramos funcionários da emissora e a maioria não fazia idéia do que estava acontecendo.

Só depois surgiu o habitual exército de homens e mulher boa-pinta, todos quarentões, e começaram a formar rodinhas, a conversar pessoalmente com quem estava ali. Comigo veio falar um que eu já conhecia, seu nome era Júlio ou Julien, ele estava vestindo uma jaqueta cor de vinho e uma camisa aberta no peito, e começou a falar sem parar, muito rápido, sobre como a série era interessante, sobre como seu criador era revolucionário, e sobre como eu seria bem remunerado por ela. Eu tentei explicar que não podia, que já tinha dois convites importantes de trabalho, e estava pensando em investir num projeto mais pessoal, mas ele parecia não me dar ouvidos. Até que veio o golpe de misericórdia. O maldito falou a única coisa que poderia me convencer de não aceitar algum dos convites que estavam pendentes e abandonar meu sonho pessoal. Ele disse que o diretor da série, diretor e co-autor, responsável pelo desenvolvimento e direção de TODOS os episódios da série, seria o grande diretor cult dos anos 70, John B. Quando ele disse aquilo, eu congelei. Minha paralisia foi tão súbita que até mesmo ele parou de tagarelar e me perguntou se eu estava bem. Eu respondi que sim e perguntei se ele estava falando sério, se O John B., John B., pensei ao mesmo tempo, o mago da minha infância, o profeta da minha adolescência, meu guia e pastor de todas as horas, fazendo suas magias e dizendo a verdade e guiando-me os passos através das imagens que criara, iria dirigir essa série integralmente para a emissora. E ele disse que sim. O maldito disse que sim e eu, completamente ignorante do que eu teria pela frente, ignorante da desgraça que Martin Madusky seria para mim, desisti de dois projetos promissores e temporariamente do meu próprio sonho e disse que Sim, também, eu aceito.

Maldito Julien!
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...
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