segunda-feira, 28 de abril de 2008
O Fim Está Próximo
domingo, 27 de abril de 2008
A Rosa Púrpura do Cairo
A Rosa Púrpura do Cairo guarda semelhanças com o último. Fala sobre como o cinema pode ser uma fuga de uma realidade indesejada, e qual é a linha que separa a imaginação e o desejo dessa realidade. Dirigido por Woody Allen, o filme conta a história de Cecília (Mia Farrow), garçonete que, em plena era da Depressão nos EUA, é apaixonada pelo cinema hollywoodiano e explorada pelo marido, o vagabundo Monk (Danny Aiello). Começa então a passar no cinema do bairro “A Rosa Púrpura do Cairo”, filme bem ao estilo dos anos 30, com pessoas ricas se amando em lugares exóticos.
É aí que, subitamente, o filme muda de rumo: um dos personagens da história, por quem Cecília suspirava de amores, salta da tela ao seu encontro. Ele se diz encantado por ela e ambos fogem da sessão. Isso causa um grande constrangimento. Os demais personagens do filme ficam confusos e começam a discutir com a platéia, o dono do cinema tem ataques quando as pessoas começam a pedir seu dinheiro de volta e o produtor do filme é chamado. Preocupado com a repercussão negativa que um fato desses teria, ele e o ator Gil Shepherd (Jeff Daniels), intérprete de Tom Baxter, o personagem fujão, começam a procurar o foragido, para tentar convencê-lo a retornar para o celulóide.
No decorrer do filme (que é curtinho, só 80 minutos), a dicotomia entre o Real e o Fictício será vastamente explorada. Baxter, especialmente, descobrirá as diferenças entre o mundo real e o celulóide, que vão muito além da liberdade de fazer escolhas, como quando descobre que seu dinheiro é falso e os carros precisam de chave para ser ligados no mundo real. Já perto do final, ele dirá: “[Cecilia], eu te amo. Eu sou honesto, carinhoso, corajoso, romântico e beijo muito bem.”, ao que Gil responderá: “E eu sou real.” A escolha de Cecília, e o que disso decorrerá, dizem muito sobre a mensagem do filme. Mas são mesmo os olhos dela brilhando arregalados ao fitar uma tela de cinema no fim do filme que explicam tudo sobre a natureza da sétima arte.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Golpe de Mestre
Grande exemplo disso é o clássico Golpe de Mestre. Ganhador de sete Oscar em 1974, é um exemplo de como costumava ser um bom filme antigamente. Não é grandioso, não é experimental, não é pesado, não é difícil. Pelo contrário. Repetindo a parceria de Butch Cassidy, o diretor George Roy Hill faz, com Robert Redford e Paul Newman, um filme divertido e ágil.
A história é a seguinte: o vigarista Johnny Hooker, após inadvertidamente dar um golpe em um mafioso, vê seu tutor e amigo ser assassinado pelos capangas do vilão, e decide se vingar, aplicando um “grande golpe” no capo. Para tanto, se alia a Henry Gondorff, grande golpista que se encontrava foragido na casa de uma cortesã.
No desenrolar do filme, temos grandes atuações, a música é extremamente marcante e outros fatores que fazem de um filme um bom filme também funcionam perfeitamente. Mas é o roteiro que, definitivamente, faz a diferença. Na esmagadora maioria dos filmes atuais, os problemas relacionados ao roteiro são justamente os que se empilham nas críticas a esses filmes: falta de criatividade na concepção e desenvolvimento da história; diálogos horríveis; personagens forçados, caricatos; furos no desenrolar da história; et cetera ad aeternum.
Enquanto bastaria ter uma história criativa, com personagens carismáticos, diálogos inteligentes, e COERÊNCIA para que o filme fosse no mínimo “bom”. Golpe de Mestre é um clássico do cinema. Os filmes ruins de hoje são esquecidos no dia seguinte e nem dão muito dinheiro. Vamos ver se “eles” aprendem.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Afogando as mágoas em Coca-Cola
-Vinícius de Moraes, Canto de Ossanha
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Muito gelo, e alguma substância. O copo tão largo quanto alto, de bordas grossas e firmes. A luz que perpassa o líquido o tinge de variados tons de cor, do negro ao marrom, do amarelo translúcido ao vermelho. Um lento movimento da minha mão faz o conteúdo revolver em pequenas ondas, que logo tornam a se acomodar. O gelo pouco a pouco entra em equilíbrio térmico com o ambiente, derretendo-se sutilmente. Imagens: a lembrança que volta, em meio a uma série de pensamentos, desconectando-me do meu redor.
Bebo. Dúvidas sem resposta à vista se constroem por si mesmas. A mesma pergunta tem muitas verdades correspondentes, e a mim é impossível achar a correta. Aquelas ações (dela), aqueles gestos, aquelas palavras. Elas não deveriam significar alguma coisa? Mas e então os outros (gestos, ações, palavras), por quê? Qual a explicação? Entender é menos fácil que explicar. Se ao menos me fosse dada a chance de fazer a pergunta...
Mais uma vez, torno o líquido gelado por entre meus lábios. Sei o que é isso que me incomoda. Eu luto comigo mesmo. Sou um desses cubos de gelo que bóia na Coca, e sou outro, os dois entrechocando-se. Esses dilemas, sou eu mesmo quem crio, não deveriam me causar tanta preocupação. Eu deveria é tomar coragem, ter mais brio. Mas só consigo tartamudear e afundar lentamente no desespero.
Abandono por alguns momentos o líquido de dilúvio em seu recipiente, deixo-o repousar. Já sei que estou transbordando de dúvidas, de perguntas, de lembranças, de conjecturas. Estou me afogando. Alivio-me e dou vazão a todos esses líquidos, esses humores corporais. Deixo que preencham outro espaço. A água limpa minhas mãos de qualquer acusação. Começo a voltar, lentamente, pensando no que fazer. A quem recorrer, pedir ajuda. Quem pode me dar um caminho. A cadeira continua ali, o copo me espera. Outro gole, e não traz o esquecimento.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
A Person from Porlock
"At this moment he was unfortunately called out by a person on business from Porlock [...]"
- S. T. Coleridge
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Esse, que me envolve paciente e projeta em mim os mais exaltados sentimentos. Tristezas sem fim ou alegrias imensuráveis. Um amor eterno, infinito em sua dor. Uma idéia inigualável, oprimida. O entendimento, que arrebenta a carne num grito sem som. Para depois jogar terra sobre eles, enterrá-los no mais profundo, deixando-me de mãos nuas a escavar a terra. Que elas se tornem sujas e sangrentas, não se alcança nunca o fundo.
Essa pessoa que abre a porta no momento da descoberta. Aquela que ri no langor profundo e, com semblante fechado, desfaz o sorriso. Que se agarra à minha cintura, e me puxa cada vez mais para baixo. Que grita de horror eternamente em meus sonhos, imagem fixa em tempo corrente.
Quem é essa pessoa, esse ser oculto, que caminha na névoa sem pressa? Que quando se está perto do mais brilhante tesouro das profundezas, faz emergir para a noite opaca. Essa que deixa os olhos cravados na areia e se esquece de olhar o mar. Que prefere contar os passos às estrelas.
Quem é essa pessoa de Porlock, fantasma de todos os sonhadores? Essa garra que se prende à mão dançante, e rasura seu compasso. Quem é esse espectro do mundo vivo, que faz derreter as páginas e esfarelar as letras e leva com seu sopro as cinzas? Quem é Ele?, O Que Assopra, e com seu vento apaga a única centelha que poderia fazer brilhar minha escuridão.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Dissertação 2 Versão Definitiva
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A “marcha da História” redunda às vezes em circunstâncias que, se à primeira vista parecem paradoxos, sob um escrutínio mais rigoroso revelam verdades sobre sua época e chegam até mesmo a explicá-la. Vivemos em uma situação desse tipo. O prolongamento da vida humana pela ciência convive com uma vontade de rapidez e velocidade que reduz os fatos cotidianos a uma fugacidade estonteante.
Isso ajuda a explicar muitas características do mundo em que vivemos. Uma delas diz respeito às “fases da Vida” e o que elas significam em cada momento da História. Se na Idade Média não existam crianças (ou o conceito de criança), somente adultos maiores ou menores, transformações culturais foram ocorrendo e mudando isso, culminando nas revoluções de comportamento das décadas de 50, 60 e 70, quando não só se criou o conceito de adolescência, como a transformou sucessivamente, até o ápice da máxima liberdade da cultura hippie.
Porém, se os jovens daquela época tiveram que lutar por sua liberdade, os de hoje já a herdaram de seus pais e avós. Assim, os adolescentes se encontram numa posição privilegiada. Têm ampla liberdade, acesso ao que quiserem pela internet, e a comodidade de só terem de se preocupar com alguns dilemas banais da juventude. Se é desse modo, por que querer mudar ou abandonar esse conforto extremo? Essa situação levou a que o período da adolescência crescesse como um câncer, começando cada vez mais cedo e se estendendo indefinidamente.
Quem opta por esse caminho se torna o chamado filhote-canguru, que quer para sempre se manter na acomodação do marsúpio materno. Desse modo, renegam os ideais paternos, submetendo a idéia de liberdade a um esquadro tacanho, o famoso “mundinho” de tantos jovens.
E as conseqüências disso são enormes. Postergar o encontro com o mundo adulto não é eliminá-lo. Cedo ou tarde, ele acontece, e o “adolescente eterno” encontrará um mundo que não conhece, com o qual não sabe lidar. E mais: esse encontro pode vir por meio de um filho. Pior que uma sociedade cheia de jovens sem rumo, é uma sociedade cheia de pais sem rumo. A bola de neve decorrente disso é assustadora.
Ainda que, por necessidade natural, esses filhotes-canguru comecem a trabalhar, será somente um paliativo, e qualquer choque ou desilusão decorrente do trabalho poderá levar as conseqüências como depressão ou suicídio. De fato, esses são problemas flagrantes da atualidade. Em um mundo cada vez mais veloz e exigente, e onde esse estresse de prolonga por muito tempo, as pessoas acabam cedendo, não suportam a pressão. E se essas pessoas tiverem uma mentalidade infantilóide e dependente, o problema se agravará muito mais.
É uma questão sombria, que poderá resultar em uma sociedade estacionária, estagnada, frágil por dentro. Para reverter esse quadro, somente reencontrando o ponto de equilíbrio – clichê máximo mas verdadeiro – para onde convirjam com equanimidade todas as facetas da liberdade em conjunto com responsabilidade, respeito e senso de humanidade.
terça-feira, 8 de abril de 2008
Dissertação 2 Versão Beta
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É mesmo impossível prever o futuro. Mesmo que se possa adiantar fatores vindouros, adivinhar as conseqüências é muito mais complexo. Na Idade Média, não existiam crianças, somente adultos, maiores ou menores. Depois, a infância se instituiu mais fortemente, como um curto período que levava logo à idade adulta. Em meados do século XX, finalmente, a adolescência se instituiu como um período intermediário, de preparação e transição. Nas décadas de 60 e 70, enfim, houve a ruptura final, quando os jovens buscaram a liberdade e a autonomia em oposição ao mundo conservador de seus pais.
Os filhos desses revolucionários, entretanto, parece que pouco herdaram dos sentimentos e ideais libertários de seus pais. Toda a efervescência daqueles anos estagnou e se converteu em uma acomodação cínica. O progresso tecnológico tomou o lugar do ideológico, e veio como um instrumento para garantir o alongamento dos períodos da vida. Se antes se morria com 40 anos, hoje os 80 são uma idade razoável, e o efeito colateral disso é um completo paradoxo.
Por um lado, em uma sociedade cada vez mais rápida, o tempo nunca é suficiente. Por outro, procura-se alongar a fase da vida sem preocupações e problemas. Os jovens dos anos 60 e 70, tendo lutado por sua liberdade, a garantem aos filhos de uma maneira completamente desproporcional. Com isso, os adolescentes se acomodam nesse período, pois tem toda a liberdade que precisam e nenhuma preocupação séria. Levam a vida no mais indiferente descompromisso, o que criou uma espécie de câncer, pois a adolescência começa cada vez mais cedo e se alonga indefinidamente.
A um filhote dessa geração, falar em “descompromisso” como algo ruim parece reacionário. Na verdade, trata-se de uma tentativa de reencontrar o equilíbrio, pois com a multidão de “filhos-cangurus” se multiplicando, a sociedade não passará incólume.
Filhos-canguru acabam tendo seus filhos, e passam os mesmos costumes a eles. Essa bola-de-neve pode ter como conseqüência, no futuro, gerações perdidas. Mas, no presente, os efeitos já são ruins o suficiente.
sábado, 5 de abril de 2008
Um Conto de Duas Pessoas (XI)
"Quando você sonha, algumas vezes você se lembra. Quando você acorda você sempre esquece."
-Neil Gaiman
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Sete homens perseguindo um arminho no ar abafado da manhã. Ele ali, num corpo de mocinha, olhando através da janela, o ar pesado, abafado e úmido. Dentro da casa, para além das cortinas escuras, era sempre assim. Sempre aquele ar pesado, abafado e úmido, um crepúsculo eterno.
Encontrou-se emergindo das divagações estuporantes, meio ofuscado por um rabo de sol que cruzava toda a sala vindo da janela. Demorou alguns segundos para tomar consciência de seu estado. Como frequentemente acontece quando se acorda de um sono pesado, inesperado e irresistível, assustou-se, abrindo os olhos de uma só vez e ofuscando-se ainda mais.
O chão ladrilhado era só um borrão negro, mas pouco a pouco pôde discernir a poeira que se acumulava aos pés da mesa logo a frente, e finalmente a própria mesa. Suspirando, deixou-se esparramar sobre a poltrona de camurça puída, e fechou mais uma vez os olhos.
Um ruído o despertou definitivamente. Era o Anfitrião, que vinha descendo a escada acompanhada de uma turba de seres estranhos. Os homúnculos debandaram pela sala e fecharam todas as cortinas, criando no ambiente um curioso clima lusco-fusco. Sem tomar nota da presença de Monami, a Anfitriã se dirigiu à base da escada, parando justamente em frente ao buraco por onde o moço entrara algumas horas antes. Onde antes era só parede cinza madeira marrom leve amarelo pele, porém, agora havia um espelho.
Tirando dos bolsos então uma chave, longa e fina, o Anfitrião estendeu o braço e alocou-a em um buraco na moldura do espelho. Girou a chave, e houve um clic. Ele então a retirou e se afastou alguns passos. O espelho pareceu por um instante derreter, mas logo, com outro clic, girou para fora, revelando uma passagem. Do buraco escuro, saiu o mais estranho agrupamento de seres que Meuamigo jamais vira.