quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Um Conto de Duas Pessoas (V)

E eis que algo acontece! Continuem conferindo...

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Um certo olhar foi lançado a ele das paredes. Das paredes a ele lançou-se o verbo. Tergiversações sobre sua viagem cômica, pretensamente cósmica. As folhas comentavam divertidas viram o rapaz seu corpo arremessado por. E vinha o vento violar seus vaticínios. Houve uma primeira tentativa de contato, seus galhos estendidos tocando as costas e os braços, envolvendo-os. Os passos contínuos do moço o soltavam do aperto. Andando sem hesitação, não percebia o perverso murmúrio das sebes. Para ele o mundo era silêncio. Aquelas paredes verdes imensas e profundas se estendendo e se contorcendo indefinidamente à frente.

De suas profundezas, porém, finalmente conseguiu captar algum sinal. Um sussurro baixo, esporádico, inconstante. Ele subia e descia pelas folhas, ecoando vez ou outra nas esquinas do labirinto. Convencido de estar ouvindo as vozes, o moço resolveu segui-las, escutando atento seu sussurro intangível. Seguia as vozes, tentava responder, eventualmente se perdia. Só o ir em frente era o ir em frente, o sentimento pungente, o aperto em seu coração, o desespero crescente e controlado. O ar ia se tornando mais pesado concomitante- pesado ele estava denso escuro –mente ao sussurro se tornar em zumbido. Mesmo as folhas pararam de se mexer a brisa se tornou nulidade a última garra do sol que se prendia ao cimo da sebe da visão se soltou e caiu no infinito. As narinas contorcidas os lábios num esgar implorando por ar ar ar. Sussurros os eles os baixos em zumbido se transformaram. A cinzentês do ocaso preenchida agora. Lento a lento, insectos infectos purgando a visão. Todo ar em luto. Correr correr correr. Passo apressado. Eis que o zumbido se torna silêncio. O silêncio expectativa. Desta nasce o grito nasce o espanto. Um profundo horror agudo a voz esquálida se quebrando sobre si, correr de vez. Os arbustos agora sepultos se abrem e o libertam. Fora do labirinto.

Ali: alto, mais de dois metros em altura, encorpado, tronco largo, perna compridas. Mãos envoltas em luvas, pés envoltos em botas. Uma capa sobre seu corpo um capuz sua cabeça. Fios de cabelos negros brancos cinzentos sujos molhados escapam, descendo ou caindo até o meio das costas. A barba sem ser feita, crescendo multicor no rosto pálido, guarda pelo nariz comprido, largo, guardião da boca de lábios finos, gengivas com dentes tortos. Suas sobrancelhas espessas lançam a amurada sobre os olhos: miúdos, pretos, sem brilho. Ali. Seu algoz, o Senhor das Moscas, esperava.

Um comentário:

Sib disse...

http://sibillaliantasse.blogspot.com/2008/02/conto-quatro-mos-vi.html
aeee o/