.
Eles apareceram na casa de Martin no começo de Abril. Não Eles, claro, em pessoa ou o que quer que sejam, mas dois de seus Agentes. Um negro alto que parecia saído de uma discoteca dos anos 70, com roupas coloridas e brilhantes, e um branquelo baixote vestindo um terno novo mas grande demais para seu corpo, praticamente um franciscano em termos capilares, com a diferença de que ele não possuía franja e seus curtos fios cinzentos iam até a nuca. Apareceram na porta da improvável casa suburbana de Madusky, pisando em sua grama bem aparada - ele fazia uma bela figura, o Autor, com seu sobretudo preto e de óculos escuros passeando para lá e para cá com o cortador de grama vermelho e cinza - e limpando os pés no tapete da entrada.
Vinham com um convite oficial para que Martin Madusky, “escritor respeitado”, visitasse a Emissora para discutirem um projeto que Eles imaginavam para ele. Martin acabara de sair de um projeto fílmico conturbado, a filmagem de seu roteiro “Massacre Sangrento” (Rising of the Solitary Corpses, no original) pelo mestre underground Ruther Cardigan, que tivera várias de suas cenas mais intensas ou impactantes emocionalmente cortadas pelos “Eles” do filme sob a justificativa de que “Eram só umas cenas enormes com os zumbis olhando para o horizonte e andando por lugares vazios sem fazer nada. Que importância isso tinha para a história?” Por isso, ficou um pouco hesitante de embarcar num novo projeto que dependesse de “Eles”.
Os dois Agentes, porém, convenceram-no de que esses Eles seriam muito liberais com o projeto, e que, ademais, o convite era somente para uma reunião, onde discutiriam possíveis histórias e conceitos, e poderiam negociar o controle que Eles teriam sobre a parte criativa da produção. MM ponderou por instantes e prometeu comparecer. Na semana seguinte, saiu da Emissora com as linhas gerais de “The Brotherhood of Heaven and Hell” debaixo do braço, não sabendo ao certo se devia sorrir pelo futuro promissor ou permanecer com o cenho franzido, perturbado pela cláusula do pré-contrato que estipulava ser dEles a palavra final em todos os “conflitos criativos”.
.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Meo, que droga. Eu, anteriormente, havia sentido raiva do Madusky. Agora eu senti uma afeição incrível. Acho que me identifiquei com o fato de ele ser 'podado' por Eles, ou algo assim.
A cada episódio eu fico mais ansiosa pelo que está por vir.
Isso, Thomaz, é um dom. Despertar tal interesse em um leitor.
Parabéns,de novo.
Postar um comentário