segunda-feira, 23 de junho de 2008

Stat Roma pristina nomine, nomina nuda tenemus

Os maias diziam que, de longe, o mar parece azul, mas de perto é verde. Que as montanhas também parecem de longe azuis mas são de perto verdes. Logo, se o céu de longe nos é azul, deve ser na verdade verde. Essa visão poderia ser mais associada por alguns a uma percepção das cores, visto que para muitos o mar é transparente ou da côr-que-o-céu-fôr, as montanhas são marrons e o céu nem cor tem, pois não é uma coisa em si. Contudo, há outros tipos de reflexão para se fazer a esse respeito. Afinal, o céu é azul ou é de uma cor que chamamos azul? Se o céu fosse da cor que chamamos verde, nós o diríamos verde ou chamaríamos a cor de azul?

Em outra palavras: o nome pertence à coisa ou é a coisa que pertence ao nome? O nome existe como coisa concreta ou ele é simplesmente um símbolo associado a um conceito? Shakespeare se questionou sobre o valor do nome (“O que há num nome?”). Já Bernardo Morliacense, monge beneditino do século XII, em seu poema “De Contemptu Mundi”, afirma que fora o nome nada nos resta.

De fato, é uma idéia interessante. Se Platão se perguntou se havia uma qualidade inerente à coisa, por que não nos questionarmos se há um nome inerente a ela? O que nos leva a chamar uma cor de vermelho e outra de azul? Pode-se argumentar que o céu é da cor que em português se chama azul, mas que em inglês é blue, em francês é bleu, em alemão é blau, etc., logo não há nome, e sim cor. Mas igualmente pode-se dizer que são meras manifestações diferentes de uma mesma sensação. Por exemplo: o azul é frequentemente associado à tristeza, o vermelho ao perigo, etc.

É claro que no fim é só dizer que o nome é uma forma de comunicação, e as nossas reações às cores uma questão evolutiva, e as cores uma ilusão, posto que só vemos um espectro que não é absorvido, e que a própria existência é uma ilusão, composta majoritariamente por vazio. Mas isso tira todo o romantismo da coisa.

E se a coisa já tem afinal um nome e uma qualidade, não há porque não conceder a ela também um pouco de romantismo. As cinzas dos ancestrais já viraram cinzas de cinzas. Contudo, alguns de seus nomes ainda sobrevivem. O José, que é “dono da padaria”, é também afinal de contas um ser humano. Vamos conceder a ele algo em que se apoiar?

2 comentários:

Le disse...

discorra sobre a afirmação "a própria existência é uma ilusão, composta majoritariamente por vazio" nos próximos posts? obrigada :]
Sib.

Babi disse...

Romantismo :)