Desde o início, senti o mundo pulsar. Enquanto andava pelo estádio, músicas ressoavam pelas caixas de som, e a multidão as cantava em coro: “Exit light, enter night...” e assim por diante. Nos mais variados tons de preto, com ocasionais cores destoantes, pessoas de todas as idades esperavam com ânsia pelo início da festa. Barbudos, cabeludos, meninas bonitas, pessoas grisalhas, idosas (talvez não mais que o próprio grupo), se reuniam ali, enquanto o céu escurecia.
Pontualmente às dezenove horas, as luzes se apagaram e o público levantou, gritando e comemorando. Entra no palco Lauren Harris, filha de Steve, e começa a tocar seu rockzinho genérico, autodenominado “powerpop”. Após a primeira música, muitos se sentaram novamente, e um número ainda maior começou a clamar: “Maiden! Maiden!” ou “Olê, olê olê olê, MAIDEN! MAIDEN”, coro que se repetiria com constância pelo resto da noite. Para alegria de todos, a apresentação de abertura durou somente meia hora, e a pobre coitada acabou escorraçada do palco aos gritos que exigiam o show principal.
Por volta das dez para as oito, uma garoa começou a cair, fina, mas logo engrossou, ensopando todas as camisetas, cabelos e afins e dissipando a nuvem de fumaça dos extratos de Cannabis sativa e Nicotiana sp. que empestavam o ar. Com altos e baixos, a chuva deixou de cair quando uma música já ressoava nas caixas de som, e às oito e dez, com uma pontualidade quase britânica, as luzes se apagam e o Iron Maiden entra no palco.
O discurso de Churchill, acompanhado por um clipe, é seguido por “Aces High”, que já faz tudo tremer. Depois, “2 Minutes to Midnight”. A setlist teria ainda “Revelations”, “The Trooper”, “Wasted Years”, “The Number of the Beast”, “Can I Play With Madness”, “Rime of the Ancient Mariner”, “Powerslave”, “Heaven Can Wait” e o final absurdo com “Run to the Hills”, “Fear of the Dark” e “Iron Maiden”. No bis, “Moonchild”, “The Clairvoyant” e a apoteótica “Hallowed be Thy Name”.
O tempo todo, o público gritou, cantou e pulou junto, num coro de 37 mil vozes. Durante “Rime of the Ancient Mariner” e, principalmente, em “Fear of the Dark”, viam-se inúmeras luzes de isqueiros e celulares, misturadas às peculiares lembranças vendidas por ali, como um par de chifrinhos brilhantes e uma inclassificável coisa que piscava em várias cores. O visual estonteante, porém, ainda deixava a dever à própria vontade da platéia, que se esgoelava para cantar as músicas e os refrões. A cada música, Dickinson gritava: “Scream for me São Paulo!” e o estádio vinha abaixo. É simplesmente indescritível a sensação de estar lá cantando “Run to the Hills” e “Fear of the Dark”, todos juntos, como enunciava uma bandeira que apareceu repetidamente no telão, numa espécie de culto, exercitando a “religion” de cantar e sentir a música do Iron Maiden.
Obviamente, toda essa emoção não deixou também os próprios integrantes da banda indiferentes. Na primeira vez que falou, Bruce foi ovacionado pela platéia que gritava seu nome, e chegou a envolver o rosto com a bandeira do Brasil. Ele estava visivelmente emocionado, um pouco envergonhado até, talvez. E fez uma promessa: voltará ao país ano que vem, com um show maior e melhor, cheio de efeitos, luzes e explosões! O baterista Nicko McBrain também foi ovacionado, e de fato todos ali mereciam isso. O show foi simplesmente destruidor, e com certeza ficará na memória de todos por muito tempo.
Após “Hallowed be thy Name”, quando as luzes do palco se apagaram e a multidão começou a se mover lentamente, ainda havia uma leve esperança de que eles voltassem, para uma ou duas músicas a mais, quem sabe? Mas não, só o que houve foi a luz, e então a voz de Eric Idle, do Monty Python, começou a cantar “Always Look On The Bright Side of Life”. Um final perfeito para um show idem. Espero ansioso pelo retorno deles.
2 comentários:
PARABÉÉNS COMPANHEIRO (Y)
eu também espero que eles voltem, porque esse show eu perdi ><'
XD
Mas mesmo assim, deve ter sido o momento mais mágico da sua vida e da vida das outras 37 mil pessoas xDDDD
DEMAIS!
x**
Postar um comentário