quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Série - S01E20

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Acho que as gravações pararam ao mesmo tempo que começaram. No dia programado tínhamos terminado de preparar as coisas básicas, a iluminação, os cenários de base e estávamos todos reunidos ali esperando os figurões (John B., Kurt Belmondo, Samantha Sugarcane e o tal Madusky que escreve a Série) quando um cara de terno que eu não conhecia chegou perto de mim e perguntou “Don Grapefruit?”, e eu respondi, é claro, sim, e ele me deu um bilhete e pediu para eu entregar ao autor da série. Ele disse também que as gravações tinham sidos suspensas e deveríamos esperar ordens de cima para começar a gravar. Quando o Madusky chegou já estávamos todos reunidos, conversando sobre isso e tentando entender o que tinha acontecido, e eu me separei deles e fui andando em direção ao autor e entreguei o bilhete na mão dele, só pra ver seu rosto ficar mais branco quando ele o abriu e leu. E então as coisas continuaram desse jeito, ninguém se deu ao trabalho de explicar o que estava acontecendo, só sabíamos que as gravações ainda não iam começar, mas tínhamos de continuar trabalhando, montando cenários, ensaiando cenas, preparando a iluminação...

Depois que o Kurt explodiu naquele dia com o elenco principal e o diretor da Série as coisas se acalmaram, embora tenham se tornado mais sombrias. Um fã maluco da Samantha invadiu o estúdio e tentou falar com ela para convencê-la a abandonar a Série, e depois disso ela ficou um pouco abalada. A Lia Lispeck e o Justin Case não vêm mais todo dia ao estúdio, parece que eles têm outros compromissos e algumas pessoas que têm contato com agentes que eu conheço dizem que eles podem estar prestes a pular fora. O John B. está transformando os ensaios num circo de horrores, ele pede para os atores fazerem as coisas mais impensadas e improvisa truques de iluminação inacreditáveis mesmo sem gravar nada. Só o Roy e a Tina que parecem um pouco imunes a tudo que está acontecendo.

Mas o pior de todos, é claro, é o Kurt. Depois do desabafo dele, quando ninguém, nem mesmo o Roy, conseguiu falar o que quer que fosse para ele, ele ficou sem aparecer no estúdio por uns três dias, e quando voltou estava ainda mais apático do que jamais estivera. Na verdade, dessa vez parece que o espírito dele transcendeu a apatia, e entrou numa espécie de tristeza profunda. Ele se arrasta pelos cantos e pede litros e litros de café para a Denise. Nos ensaios funciona como uma espécie de elemento do cenário, um cenário que emite uma voz gutural, que diz palavras que poucos gostariam de ouvir.

Se o Kurt está triste, eu também estou, e não acho que haja muito a fazer agora. Gostaria de poder ajudá-lo, de fazer alguma coisa por ele, mas sinceramente me parece, por mais otimista que eu seja, que ele está além de qualquer salvação, assim como a Série.
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