terça-feira, 1 de setembro de 2009

Na Biblioteca...

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Já publiquei algumas vezes aqui pedaços de coisas que escrevi ou que ainda não terminei. Mais uma vez, lá vamos nós. Mais um dos começos de romance que descansam no disco rígido à espera de que a procrastinação cesse de todo e a vontade sonhadora faça-se em vontade prática para dar à luz o feito ou desastre literário que ainda agora é nada mais que um retalho e uma idéia.
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Os degraus do Lugar Sagrado nos disseram as horas, quando perguntados, mas havia muita fumaça ali, pouco se via, e a bulha dos carros passando, como fundo para o silêncio de nós quatro, recortava aquela imagem de um carro do passado parado no meio fio, as portas recém-fechadas, Pauline receosa de continuar - ela tem medo, sempre teve, seus olhos abrem-se ao menos uma vez por dia de algum espanto ou receio, seus olhos lindos, imensos, tão grandes e tão adequados à sua face e à sua cabeça linda e incomum -, Andrei e Fischer junto dela, um de cada lado, as mãos deles paradas no ar prestes a agarrar os cotovelos da moça, e eu ali, também receoso, também com medo, indeciso sobre continuar subindo e talvez não mais retornar ou deixar-me levar pela aflição, pelo desejo de continuar ao lado dela, de não deixá-la, e no entanto eu já estou no primeiro degrau, não há mais volta, um tremor de terra, sentido parece somente por mim, badalam os sinos da Catedral, já não posso atrasar, não pode haver mais medo, viro e mecânico dou o primeiro passo, é uma longa subida, lembro da imagem dos mosteiros e dos templos nas montanhas, construções encravadas nos picos mais altos, enterradas na pedra e na neve, acessíveis somente pela Escadaria que parece não ter fim, aquela sucessão estreita e desencontrada de planos irregulares de rocha, nada convidativos, iguais em distância à que hoje me desafia, ainda que ao todo situadas no lado oposto dessa, imensa e ameaçadora, de degraus tão altos e tão largos que é preciso escalá-los, jogar os braços por cima deles e se arrastar impotente pelo mármore ocre, humilhar-se voluntariamente para poder atravessar os portais que lá em cima nos aguardam, um mera sombra aqui de baixo, uma sombra absoluta na chegada, lá, de onde não se pode mais olhar pra trás, somente em frente, somente afundar-se na sombra que desde aqui da base, desse recanto ensolarado e enevoado de mundo, já posso sentir.
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Para cada degrau, um enigma. Em minha pequenez observo no alto de cada degrau letras que não conheço, hieróglifos guardiões da senda que segue acima, o caminho críptico para o Portal e a Sombra, desvelado passo a passo, degrau por degrau, pela solução daqueles enigmas.
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2 comentários:

João G. Viana/Pudim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Juka disse...

Eu gostei muito, muito mesmo!

Cara, foi muito boa essa iniciativa sua de ter publicado o começo. Esse seu renovado estilo é muito interessante. Estou cheio de expectaivas pra essa possível saga, também muito ansioso para que você se anime a adotá-la de vez. Afinal, cada capítulo novo aqui é motivo de grande surpresa e admiração. [2]


Eu adorei o fato de vc nao falar de morte (pelo menos ainda não), embora não tenha sido uma história exatamente feliz.

Fora isso, eu já falei como admiro o jeito que você descreve as coisas, pessoas e sentimentos? Suas descrições são incríveis.

Desculpa a demora pra te mostrar o que eu consegui escrever sobre você, mas garanto que vc receberá tal texto quando e como vc menos espera.

Saudades de vc.

Da sua maior fã,
Juka.