sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Um Conto de Duas Pessoas (XVII)

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Eu, sei, faz tempo. Mas as coisas acontecem na hora certa. Para os que se lembram, o caminho continua aberto: "Tudo e Nada". Para os que não se lembram, melhor começar por aqui: "Amortescimento".

Dito isso, façam bom proveito.
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Ei, onde está todo mundo? Venha, venha cá, sim, isso mesmo, aí, pode parar. Pronto. Todos aqui, a escuridão lá fora, aqui dentro um pouquinho, luz não sei de onde. Lanternas nas mãos, meus amigos! Ajeitem os capacetes, não tenham medo, vamos! Esperem... esperem um pouquinho... só mais um instante... isso! É, o Senhor das Moscas já passou, o Anfitrião atrás dele, a alma do nosso amigo... onde está? Tenho a impressão de tê-la visto em algum lugar. Precisamos procurá-la, crianças, é de vital importância. O Sr. Pifrosineliano está ansioso, espera-nos lá fora para começar as buscas. Não, aí não Dicksie! Eu falei para ficarmos juntos, é melhor não mexer em coisas que não conhecemos direito. A chamada: Poncho? Presente, muito bem. Felício? Está aqui também, ótimo. Dicksie já está aí que eu sei, seu pachola. Cumparsito? Ótimo. Barff e Anísio, lado a lado como sempre, ok. E Todd, e pra terminar, eu! Preto de carvão e seus sete anõezinhos, sim, muito bem. Vamos lá pra cima agora, garotos, vamos nos ver. Veremos a luz lá em cima mas também muitas coisas feias e tristes, é isso. Preparem-se por favor, estão bem? Todos os equipamentos nas mãos, e as lanternas, não se esqueçam. Pronto, é isso, venham. Sigam-me, sim?

O homem de capote, míope como era, não reparou nas criaturas que passaram entre seus pés. Para ele era somente a noite de raios e a chuva contra o couro de sua capa e de seu chapéu. E a seus pés o corpo, seu primeiro mistério. Mexendo os braços, sem ligar para chuva, pegou uma caderneta em seu bolso, uma caneta, e começou a escrever. Não esboçou reação frente ao papel encharcado e à tinta que escorria. Em sua mente, ele via muito bem. Havia ali dois mistérios:

1. O Mistério do Homem
2. O Mistério do Sentido

Os destrincharia com habilidade, como sempre fizera, vejamos. O Mistério do Homem, mistério universal do homem. Também o chamava Mistério do Corpo. Perguntas se multiplicavam em sua mente. Quem era aquele homem (e por que estava morto, qual fora sua vida, o que em sua história o levara àquele momento)? Alguém o matara (e se sim, por que, e quem, e como, e quando, e de que forma o levara até ali)? Em que espécie de conspiração nefasta estaria envolvido para ter o corpo jogado à frente de uma catedral? A tinta escorria pela caderneta, que já se espedaçava sob o peso da água, e o homem finalmente desistiu de escrever. Agora deveria pensar no mistério do sentido.

Era isso: qual o sentido disso tudo? Qual o sentido dessa história, desses acontecimentos? Quem é o Meu Amigo? Quem é o Senhor das Moscas? Quem é o(a) Anfitriã(o)? Quem é o Sr. Pifroniseliano, quem é Preto de Carvão, quem são Poncho, Felício, Dicksie, Cumparsito, Barff e Anísio, e Todd? Quem são os moradores dos 13 Quartos da mansão do(a) Anfitriã(o)? Quem o corpo, qual a catedral, quem o assassino? Quem é o detetive? Quem sou eu, quem é você, qual é o sentido disso tudo?

Não é hora, ainda, das respostas. Mas a chuva não se importa, e cai violentamente.
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5 comentários:

Equipe Morato em noticias disse...

Juliana, gostaria de parabeniza-la por este grandioso blog e convida-la a participar do nosso blog:

moratoemnoticias.blogspot.com

Convide seus familiares e parentes e companheiros do PSOL para opinarem e participarem dessa nova frente popular em defesa de Fco.Morato

Beijos e até mais

Anônimo disse...

não sei como funciona a notificação de comentários do seu blog, mas comentei no texto sobre os filmes falados em inglês do antonioni. abraço.

john fletcher disse...

ops... esqueci de assinar.

John Fletcher disse...

estou lendo aos poucos ainda, mas tenho gostado de várias pontuações.

e claro que o texto da clarice me traz outros comentários, pois passei, cada dia mais, a gostar menos dela. mas é isso mesmo. 42.

Juka disse...

Você tem postado muito, e eu aqui sem tempo (e nem cabeça) pra ler.
PUTA MUNDO INJUSTO MEU, já diria meu querido boça, FIQUEI CABRÊRO.

Poooxa, Thomaz.
Magoei :(