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Hoje eu cheguei um pouco mais tarde no estúdio. Não estava me preocupando muito, já que não tinha muito o que fazer lá. Não havia cenas novas para serem ensaiadas há alguns dias, e todos os cenários programados já estavam construídos. Surpreendentemente encontrei todos os membros da equipe ali, o Roy e a Tina é claro, mas também a Lia e o Justin, e o John B. e a Samantha, e o Madusky, que quando eu cheguei já estava lá, e o Kurt, que do mesmo modo que nas últimas duas semanas se sentava na cadeira com seu nome, de óculos escuros, imóvel.
As pessoas conversavam baixo, sem muito barulho, o Roy e a Tina sentados trocando algumas palavras com a Lia e o Justin, todos com expressões de desânimo no rosto. Samantha, o rosto contraído, lia um livro, talvez sua autobiografia, e o John B. e o Martin Madusky estavam de pé, um de frente pro outro, cochichando alguma coisa. A maioria das luzes não havia sido ligada e o pessoal da equipe estava todo reunido perto do café. Dei um suspiro de desconsolo, tentando pelo menos dar um passo em direção a mais um dia daqueles, e qual não foi minha surpresa quando ouvi meu nome sendo dito alto atrás de mim, duas palavras que se colocaram sobre todas as outras do estúdio, e fizeram todos pararem de falar e virarem o rosto em minha direção. Mais devagar que eles, eu também me virei e dei de cara com um homem elegante e completamente careca, que me entregou um bilhete dizendo “Para você” e, virando-se, foi embora. Abri o bilhete e li o que estava escrito, em largos caracteres batidos à maquina.
“O TÍTULO DA SÉRIE FOI DECIDIDO.
SERÁ PRELÚDIOS E FUGAS.
AS GRAVAÇÕES PODEM COMEÇAR.”
Com um grande sorriso me voltei para as pessoas no estúdio, que continuavam me encarando ansiosas, e anunciei que nosso tormento havia terminado, que Eles finalmente nos haviam dado uma luz, e agora tudo poderia voltar ao normal: as gravações tinham sido autorizadas a começar. Os membros da equipe reunidos gritaram de alívio e alegria. Os atores coadjuvantes se abraçaram para comemorar. Samantha Sugarcane fechou o livro e levantou-se sorrindo. John B. e Martin Madusky se entreolharam e foram, cada um para um lado, começar a preparar as gravações. Kurt em princípio não manifestou reação, mas continuou sentado, imóvel, até mesmo quando o Roy foi até ele cumprimentá-lo. Só se levantou quando os outros começaram a se mexer. Como um organismo único, guiado por alguma espécie de consciência coletiva, a equipe e o elenco se movimentaram, pelo estúdio, realocando o cenário e os equipamentos e posicionando-se em seus lugares marcados, que eles tantas vezes já haviam freqüentado impotentes. Cada ordem de John B. desencadeava uma onda de vitalidade pelo galpão. Ele disse “Luz” e tudo se iluminou. Ele disse “Som” e o silêncio pesado de mãos apertando nossos lábios que nos atormentava há tanto tempo se desfez. Ele disse “Câmeras” e cada um ali, cada mínimo elemento da equipe e do elenco de “Prelúdios e Fugas” se colocou em seu lugar perfeito. Mas quando ele disse “Ação”, Kurt, que já se posicionara para gravar a primeira cena em que seu personagem aparecia, saiu do meio do cenário e veio, correndo, em minha direção, e com os olhos cheios de lágrimas me abraçou e disse, murmurando:
- Obrigado.
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quarta-feira, 2 de junho de 2010
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