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A “marcha da História” redunda às vezes em circunstâncias que, se à primeira vista parecem paradoxos, sob um escrutínio mais rigoroso revelam verdades sobre sua época e chegam até mesmo a explicá-la. Vivemos em uma situação desse tipo. O prolongamento da vida humana pela ciência convive com uma vontade de rapidez e velocidade que reduz os fatos cotidianos a uma fugacidade estonteante.
Isso ajuda a explicar muitas características do mundo em que vivemos. Uma delas diz respeito às “fases da Vida” e o que elas significam em cada momento da História. Se na Idade Média não existam crianças (ou o conceito de criança), somente adultos maiores ou menores, transformações culturais foram ocorrendo e mudando isso, culminando nas revoluções de comportamento das décadas de 50, 60 e 70, quando não só se criou o conceito de adolescência, como a transformou sucessivamente, até o ápice da máxima liberdade da cultura hippie.
Porém, se os jovens daquela época tiveram que lutar por sua liberdade, os de hoje já a herdaram de seus pais e avós. Assim, os adolescentes se encontram numa posição privilegiada. Têm ampla liberdade, acesso ao que quiserem pela internet, e a comodidade de só terem de se preocupar com alguns dilemas banais da juventude. Se é desse modo, por que querer mudar ou abandonar esse conforto extremo? Essa situação levou a que o período da adolescência crescesse como um câncer, começando cada vez mais cedo e se estendendo indefinidamente.
Quem opta por esse caminho se torna o chamado filhote-canguru, que quer para sempre se manter na acomodação do marsúpio materno. Desse modo, renegam os ideais paternos, submetendo a idéia de liberdade a um esquadro tacanho, o famoso “mundinho” de tantos jovens.
E as conseqüências disso são enormes. Postergar o encontro com o mundo adulto não é eliminá-lo. Cedo ou tarde, ele acontece, e o “adolescente eterno” encontrará um mundo que não conhece, com o qual não sabe lidar. E mais: esse encontro pode vir por meio de um filho. Pior que uma sociedade cheia de jovens sem rumo, é uma sociedade cheia de pais sem rumo. A bola de neve decorrente disso é assustadora.
Ainda que, por necessidade natural, esses filhotes-canguru comecem a trabalhar, será somente um paliativo, e qualquer choque ou desilusão decorrente do trabalho poderá levar as conseqüências como depressão ou suicídio. De fato, esses são problemas flagrantes da atualidade. Em um mundo cada vez mais veloz e exigente, e onde esse estresse de prolonga por muito tempo, as pessoas acabam cedendo, não suportam a pressão. E se essas pessoas tiverem uma mentalidade infantilóide e dependente, o problema se agravará muito mais.
É uma questão sombria, que poderá resultar em uma sociedade estacionária, estagnada, frágil por dentro. Para reverter esse quadro, somente reencontrando o ponto de equilíbrio – clichê máximo mas verdadeiro – para onde convirjam com equanimidade todas as facetas da liberdade em conjunto com responsabilidade, respeito e senso de humanidade.
2 comentários:
"Inatisfatória" nao...
"Insatisfatória"!
Abrass!
Parabéns pelo blog!!!!!!
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