quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Série - S01E23

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Parado o carro, John B. logo abriu a porta e saltou para fora, alongando o corpo como se tivesse viajado por muitas horas. Martin Madusky desceu com mais dificuldade, abrindo a porta, girando o corpo e levantando-se com ajuda dos braços. Depois de bater a porta, espanou o pó da aba do sobretudo e colocou os óculos, que tirara ao alcançar a portaria. O estacionamento estava vazio. O Autor de sobretudo preto calça preta camisa preta sapatos pretos meias pretas óculos pretos cabelos pretos barba preta pele branca e dentes amarelos e o Diretor de colete, óculos escuros, jeans, tênis, boné, cabelos brancos, barbicha e pele enrugada seguiram lado a lado pelo pátio imenso, quase deserto, em direção ao grande bloco oblongo e escuro de milhares de janelas que era a Sede da Emissora. O sol se tornara ainda mais quente e arrancava ilusões do cimento e suor do rosto dos dois caminhantes. Na entrada do prédio não estava escrito o nome da Emissora. Ao se aproximarem das portas de vidro escuro, elas não se abriram à passagem deles, e ao tentar abri-las perceberam que estava trancada. Martin bateu no vidro com força enquanto John B. se virava e olhava para cima, em direção ao céu azul ou ao próprio sol. Não havia toldo na entrada do prédio, as portas davam direto no pátio, sem abrigo dos raios solares ou da chuva. Martin tentou bater de novo, mas seu punho varou o ar, pois as portas se haviam aberto com rapidez, revelando o átrio acarpetado que constituía o saguão de entrada da Sede.

O carpete vermelho se espalhava por uma área larga. Ao passarem pelas portas Martin e John tiveram a impressão de que o saguão ocupava todo o térreo do edifício, mas não puderam comparar as perspectivas interna e externa pois as lâminas de vidro já se haviam fechado atrás deles. Elas eram a única brecha para o exterior naquele recinto. As paredes marrons se erguiam a uns três metros de altura, cobertas por painéis quadrados de madeira, e circundavam todo o saguão sem intermitências, até as portas de vidro pelas quais o Autor e o Diretor haviam acabado de passar. Logo à frente da entrada havia um tapete cor de vinho, de talvez quatro por cinco metros, donde emergiam douradas as letras N G e P, colossais. A única saída dali, além das portas de vidro, era um elevador colocado bem no meio do saguão, uma estrutura redonda com portas de aço opacas. Além do tapete e do elevador, as únicas outras coisas que se podiam divisar no saguão eram pequenos quadros colocados a distâncias constantes uns dos outros sobre os painéis de madeira, que pareciam vistos de longe retratos em preto e branco de faces conhecidas, que fitavam todos aqueles que passavam por ali sem desviar o olhar, mas Martin e John não tiveram tempo de conferir, pois logo que puseram os pés dentro do saguão se encaminharam para o elevador que os esperava de portas abertas.

Não havia botões, mas assim que entraram as portas de aço se fecharam às suas costas e, com um tranco, o elevador se pôs em movimento. Começou a tocar uma música muito baixo, que nenhum dos dois pôde distinguir, e quando ela parecia estar aumentando, em direção talvez a algo mais compreensível, o elevador parou e as portas se abriram para que eles saíssem. Encontraram um corredor estreito, forrado com carpete vermelho e painéis de madeira, e sem janelas ou fontes de luz exterior, somente portas que afundavam nos painéis uma após a outra. Após alguns segundos parado na saída do elevador, John B. se virou para a direita e começou a andar. Um pouco inseguro de estarem no caminho certo, Martin Madusky perguntou: “Tem certeza de que é por aqui?” John B. respondeu: “Sim, você não se lembra?” E Martin: “Nunca estive aqui.”

John B. caminhava lentamente, mas com decisão, e Martin Madusky o seguia, a cara fechada, de vez em quando olhando para trás e para os lados. Dos dois lados do corredor portas se alternavam. Quando havia uma porta à direita não havia à esquerda, e quando havia uma porta à esquerda não havia à direita. As portas não tinham só números, mas inscrições, e símbolos, ou nada. A primeira pela qual passaram tinham um olho mágico; na segunda estava escrito “Aqui”; em outra uma placa dizia “Entre sem bater”; em outra, um homem de braços e pernas abertos estava representado num ícone em forma de losango; em outra, havia uma aldrava em forma de rosto de gárgula. Muitas portas eram lisas e não tinham sequer maçanetas. Após andarem por alguns minutos o corredor começou a fazer uma curva, e antes que pudessem praguejar por não estarem chegando a lugar nenhum uma porta pela qual haviam acabado de passar, e na qual não havia símbolo ou inscrição algum, se abriu silenciosamente e a figura de Little Punk apareceu no limite do campo de visão de Madusky. O Autor parou e virou o tronco devagar, chamando a atenção do Diretor, que também parou. Little Punk sorriu para eles seu grande sorriso branco e disse: “Entrem.”

Dentro do recinto, que parecia uma sala de interrogatórios, com uma tábua no papel de mesa brotando da parede cinza e duas cadeiras de ferro de cada lado, encontraram Doo-Doom sentado ao lado de uma placa onde estava escrito “Sala de Reuniões”. O único elemento destoante ali era uma cadeira de madeira encostada na parede, sobre a qual ninguém estava sentado. Martin e John sentaram-se nas cadeiras de ferro, assim como Little Punk, que acabara de fechar a porta.

“Muito bem...”, disse o agente, antes que se instalasse qualquer espécie de silêncio, e depois disse o que o Autor e o Diretor já sabiam, que estavam ali para decidir o título da Série. Madusky soltou um “Ehrm” à cata de fôlego para sua pergunta, que era “Por que caralhos nós só fomos chamados para decidir isso agora?”, mas Doo-Doom, que não costumava falar muito, continuou o discurso de Little Punk antes que ele pudesse articular qualquer som. “Para decidir o título, precisamos discutir sobre o que é a Série...” – a voz dele era anasalada, mas grave – “Em que lugares ela se passa, quem são os personagens, que tipos de eventos acontecem... é dessas informações que poderemos extrair um bom título.”

Martin respondeu dizendo que a Série, bem, ele gaguejou um pouco e disse que a Série era sobre jornadas, sobre os caminhos que as pessoas tomam, e sobre as paixões que tomam conta delas nesses caminhos, sobre os desejos e os apegos e as obsessões, e algum tipo de coisa que as pessoas chamam de “amor”, e aonde ele as leva. “Um homem, ehrm, ele tem um objetivo, ele tem um sonho, e ele deseja ardentemente o objeto do seu, ahm, sonho, ele quer muito o que ele quer, mas, é, talvez ele não ame o aonde o sonho pode levar ele, mas o sonho em si, hum... Isso, é, a série é sobre isso, sobre as viagens que o amor faz a gente fazer, sobre... o amor que temos por essa viagem, sobre o amor que temos pelo destino” E John B. sugeriu alguns títulos, ele disse que talvez um bom título seria “Love Trip”, ou “O Amor é uma Viagem”, mas Little Punk e Doo-Doom descartaram essas opções. Com mais tempo de discussão, ele passou a defende ardorosamente “Dois Caminhos para Bortelega”, que ele disse ser um título perfeito, pois sintetizava, em poucas palavras, toda a idéia da Série: o destino idílico, a jornada, as escolhas, mas também esse foi irredutivelmente vetado pelos agentes.

Quando saíram da Sede já estava escuro. Little Punk e Doo-Doom se haviam despedido deles e fechado a porta lisa às suas costas. O elevador os trouxera prontamente para o saguão e, quando viram o negrume do ambiente, se surpreenderam. Nenhum dos dois levava relógio e não haviam se dado conta de quanto tempo se passara lá dentro. A despeito disso caminharam com tranqüilidade para o carro, que deslizou suavemente para fora do estacionamento, levando duas almas mais leves, despidas de um peso que não haviam chegado a compreender.

A Série se chamaria Prelúdios e Fugas; talvez como uma metáfora para a constante tensão entre a expectativa em direção aos fatos e contrária a eles que marcaria a narrativa da série, ou talvez somente porque, nos alto-falantes da sala de reuniões, vindo não se sabe de que central musical no Edifício, estivesse tocando O Cravo Bem Temperado.
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quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Série - S01E22

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Eu gostaria de ter começado me apresentando, contando minha história, dizendo de onde eu vim, quem é minha família, como eu cheguei até aqui, mas eu não podia. Minha língua estava por assim dizer atada por um dever que eu mesmo me impus. Eu sou um profeta, o profeta do apocalipse, e Martin Madusky é meu anticristo.

Meu nome é John Tarr Zane, meu pai era húngaro e minha mãe americana descendente de gregos, o velho imigrou para cá no começo dos anos sessenta, ele tinha uns 16, 17 anos. Logo se envolveu com uma espécie de gangue que ficava vagando pela cidade, mas que não representava nenhum perigo real. Ele conheceu minha mãe num desses passeios, ela tinha quinze anos e na primeira vez que meu pai a viu ela estava na saída do seu colégio de filhos de médicos e advogados, onde as meninas ainda usavam saia, camisa e lenço como uniforme. Depois daquele primeiro vislumbre (ele sempre dizia que tinha sido pra ele uma revelação, mas minha mãe achava que ele tinha se interessado muito mais pela presença de um monte de moças adolescentes que por ela em especial) meu pai passou a incluir a saída do colégio dela nos itinerários diários da sua gangue, até ter a coragem de se aproximar dela e a sorte de não ser violentamente rechaçado pelos seguranças do colégio. Ele começou então a levar minha mãe todo dia embora, eles escapavam para algum café ou ficavam andando à toa pela cidade, no mais completo ócio e na mais completa indiferença. Quando os pais dela, meus avós, perceberam o que estava acontecendo, era tarde demais: minha mãe estava grávida. Meu pai sempre disse que eles foram incrivelmente serenos, considerando o que tinha acontecido, e minha mãe nessas horas em geral se calava, mas visitávamos pouco os pais dela e, embora eu fosse só uma criança, percebia o clima solene que reinava na casa do senhor advogado Zane e sua esposa quando estávamos lá. Mas o importante mesmo é que eu nasci e cresci num ambiente muito bom e muito estranho, minha mãe adorava pintura, escultura, arquitetura, e meu pai era um espírito incrivelmente livre e sábio, um oráculo primitivo na minha vida. Por isso desde muito cedo me interessei por arte. Nós passeávamos em família no final de semana, uma lembrança da juventude dos meus pais, que fora tão abruptamente encerrada com o meu nascimento, e sentíamos verdadeiramente a cidade. Às vezes levávamos latas de tinta e fazíamos desenhos em paredes de terrenos baldios, o que devia ser uma cena muito estranha, um homem, uma mulher e uma criança pichando um muro. Acho que foi assim que eu descobri minha verdadeira vocação e meu verdadeiro desejo, de manipular o espaço, de criar figuras com volume, obras de arte por onde alguém pode andar, e, talvez, se perder. E foi assim que eu me tornei cenógrafo, que pode parecer um ofício menor para um artista, mas não é. Nos anos oitenta eu freqüentava com afinco um cineclube do centro onde passavam com freqüência os filmes de John B., que desde o primeiro fotograma se mostrou a mim como um visionário, um oráculo para minha juventude, e talvez para o resto da minha vida. Dessas paixões conjuntas nasceu meu ofício. Dessa história e de muitas outras nasci eu. Quando me iniciei na carreira de cenógrafo Eles acharam que meu nome era muito complicado, muito étnico, e me obrigaram a arranjar um pseudônimo. Deram para mim a alcunha de Johnny Tarzan, que eu uso até hoje. Esse sou eu.

E agora estou aqui, pelo menos do jeito em que se pode estar num maldito limbo. Fui enredado numa teia construída por Eles, uma teia que não tem aranha, mas da qual ninguém sairá vivo. Estamos todos presos, envolvidos pelo fio de teia e imobilizados. Olho ao meu redor e só vejo escuridão, os holofotes estão todos apagados, as câmeras estão todas cobertas, as portas estão se fechando e talvez não dê tempo de sairmos daqui de dentro. Está tudo a um passo da destruição, e entre os corpos curvados e as faces sombrias há o bobo da corte, que continua cantando a aurora, enquanto eu, o corvo da tempestade, anuncio o fim do mundo. Martin Madusky foi o que menos mudou com tudo o que aconteceu. Ele continua o mesmo sujeito mau humorado, fechado, arrogante, irresponsável. Ele não respeita mais nem mesmo John B., que estoicamente resiste. Kurt Belmondo está ficando maluco, Samantha Sugarcane está à beira de um ataque de nervos, os astros teen estão assustados, e não há ninguém na equipe que realmente acredite que algum dia essa série será gravada. Enquanto isso, Eles permanecem em silêncio. Só eu falo, só a minha voz é ouvida, mas tudo o que eu tenho para dizer é que todas essas pessoas estão se desintegrando, logo atingirão o ponto de saturação, e que essa maldita série em breve voltará para o nada, e então será como se ela nunca tivesse existido, a não ser para nós, que por todos esses meses vivemos seu horror. Essa é minha profecia.
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quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Série - S01E21

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Meu nome é Melman Ludovic, já que você perguntou, e eu não tenho mais nada para dizer. Sim, eu fui até sua emissora, seja lá como vocês a chamem, até o galpão da sua emissora, o estúdio, certo, NGP, certo, isso pouco me importa, sim. Como presidente do clube honorário de Samantha Sugarcane, tenho esse direito, e não fui nenhum invasor, entrei pelo portão principal como qualquer um, embora nenhum guarda tenha perguntado meu nome. É claro que eu queria falar com Samantha, minha deusa Samantha, e é claro que vocês não tem nada a ver com isso. O quê? Ora, o estúdio pode ser seu mas a vida é minha, e Samantha não é de ninguém além de si mesma. Vocês estão cometendo um crime impedindo a gravação dessa série, eu vi como estão as coisas, é um desastre, aliás vim até aqui exatamente para pedir a Samantha que abandone esse barco naufragado. Eu entendo a dignidade dela, e também a temeridade de vocês todos, prendendo-a como fazem, mas já é hora disso acabar. Faz meses que não vejo o rosto de Samantha na TV, ela não vai a mais nenhum programa, e quanto mais no cinema! Ai, no cinema, meus ossos tremem quando penso na ausência de minha deusa da sala escura, quando penso na tela branca e na sala escura, e nas sombras que ocasionalmente vejo lançadas ali mas que não passam disso, sombras, nenhuma com um pouco sequer de brilho, um pouco sequer da luz de Samantha. Criminosos! Estão impedindo que ela leve o fogo adiante. Eu não sou criminoso, sou só um fiel, um adorador, um fanático, e vocês, o que são? Donos? Produtores? O que é isso? Qual é o brilho que vocês tem? Já se perguntaram isso? Qual é o poder que um de vocês ou vocês todos juntos têm, perto do poder da minha deusa? Hein? Você tem como me responder isso?
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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Omphalos

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Escrevi isso se não me engano em 2006, talvez 2005. De toda minha antiga "produção" "poética", é talvez a menos execrável. Fiz uma alteração somente na quarta estrofe, substituindo os três últimos versos - os anteriores não faziam o menor sentido. Achei que ficou aceitável, mas talvez seja só condescendência nostálgica.

Flop, flop, flop.
Voa o passarinho!
Saindo de seu ninho,
O mundo viajar.

Flop, flop, flop.
Asas sobre o vento,
Sobre o tormento:
Seu outro-eu achar.

Voa, voa, bate as
asas da ternura.
Voa, voa, superando
as agruras.

Cede, vive, morre.
Dia após dia as nuvens passam,
O vento sopra, o sol brilha.
Corre, passarinho, corre.

Persiste, vive, insiste,
Comendo só alpiste,
Contando um causo, chiste
E forte ele resiste.

Pobre passarinho!
Nas asas da tormenta,
No olho do furacão,
Comida com pimenta.

Forte, forte, quente,
Sobrevive cruelmente.
Voando, voando, sempre,
Tal qual o seu tenente.

Nem é mais passarinho,
Ou outra ave no céu:
Humanos em seu ninho
Envoltos por um véu.

Ainda que de má
Qualidade a vivência,
Não permita que o mundo
Te faça bater continência.

Voe, voe, meu amigo,
Saia de sua caixa.
Pois se é árdua a missão
A tristeza só abaixa.
(Saia de seu umbigo.)
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quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Série - S01E20

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Acho que as gravações pararam ao mesmo tempo que começaram. No dia programado tínhamos terminado de preparar as coisas básicas, a iluminação, os cenários de base e estávamos todos reunidos ali esperando os figurões (John B., Kurt Belmondo, Samantha Sugarcane e o tal Madusky que escreve a Série) quando um cara de terno que eu não conhecia chegou perto de mim e perguntou “Don Grapefruit?”, e eu respondi, é claro, sim, e ele me deu um bilhete e pediu para eu entregar ao autor da série. Ele disse também que as gravações tinham sidos suspensas e deveríamos esperar ordens de cima para começar a gravar. Quando o Madusky chegou já estávamos todos reunidos, conversando sobre isso e tentando entender o que tinha acontecido, e eu me separei deles e fui andando em direção ao autor e entreguei o bilhete na mão dele, só pra ver seu rosto ficar mais branco quando ele o abriu e leu. E então as coisas continuaram desse jeito, ninguém se deu ao trabalho de explicar o que estava acontecendo, só sabíamos que as gravações ainda não iam começar, mas tínhamos de continuar trabalhando, montando cenários, ensaiando cenas, preparando a iluminação...

Depois que o Kurt explodiu naquele dia com o elenco principal e o diretor da Série as coisas se acalmaram, embora tenham se tornado mais sombrias. Um fã maluco da Samantha invadiu o estúdio e tentou falar com ela para convencê-la a abandonar a Série, e depois disso ela ficou um pouco abalada. A Lia Lispeck e o Justin Case não vêm mais todo dia ao estúdio, parece que eles têm outros compromissos e algumas pessoas que têm contato com agentes que eu conheço dizem que eles podem estar prestes a pular fora. O John B. está transformando os ensaios num circo de horrores, ele pede para os atores fazerem as coisas mais impensadas e improvisa truques de iluminação inacreditáveis mesmo sem gravar nada. Só o Roy e a Tina que parecem um pouco imunes a tudo que está acontecendo.

Mas o pior de todos, é claro, é o Kurt. Depois do desabafo dele, quando ninguém, nem mesmo o Roy, conseguiu falar o que quer que fosse para ele, ele ficou sem aparecer no estúdio por uns três dias, e quando voltou estava ainda mais apático do que jamais estivera. Na verdade, dessa vez parece que o espírito dele transcendeu a apatia, e entrou numa espécie de tristeza profunda. Ele se arrasta pelos cantos e pede litros e litros de café para a Denise. Nos ensaios funciona como uma espécie de elemento do cenário, um cenário que emite uma voz gutural, que diz palavras que poucos gostariam de ouvir.

Se o Kurt está triste, eu também estou, e não acho que haja muito a fazer agora. Gostaria de poder ajudá-lo, de fazer alguma coisa por ele, mas sinceramente me parece, por mais otimista que eu seja, que ele está além de qualquer salvação, assim como a Série.
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